Breve biografia de D. António Paes Godinho
(Continuação)
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Chamado a desempenhar funções jurídicas na Arquidiocese de Évora, foi enviado para Coimbra, com o propósito de realizar o doutoramento em Direito Canónico, na respectiva faculdade. Conviveu aqui, de perto, com algumas das principais figuras do seu tempo, entre eles Fr. Gaspar da Encarnação, futuro ministro de D. João V, que teve grande peso religioso e político na época.
O facto de sobressair pela capacidade intelectual, pela qualidade humana e pelos dotes como pastor de almas levou o Governo a escolhê-lo para bispo de Nanquim. Homem modesto, Paes Godinho já recusara outros cargos e quis resistir a esta nomeação, mas a obediência à vontade do rei acabou por impor-se. Recebeu a sagração episcopal em 1718 e preparou-se para viajar para a China.
Esta escolha de D. João V, embora bem acolhida pelo Vaticano, coincidiu com uma crise nas relações diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé, pelo que D. António Paes Godinho esteve pronto, com a sua comitiva, para viajar para a China nada menos do que sete vezes, mas nunca foi autorizado a embarcar.
Acabou por renunciar à sua diocese e fixou residência em Viana do Alentejo.
O Governo português chamou-o então para exercer as funções de provisor – na prática, as de arcebispo interino – da Arquidiocese de Lisboa Oriental, passando a residir na Corte, onde gozou de extensa influência, e chegando a pertencer ao Conselho do Rei. Nunca perder (perdeu) as suas qualidades inatas de modéstia e disponibilidade.
Em 1730, foi um dos poucos bispos escolhidos para a cerimónia de sagração da Basílica do Convento de Mafra, o mais importante acontecimento político-religioso do reinado de D. João V, o que é bem expressivo.
Nesse mesmo ano, invocando motivos de saúde, resignou aos lugares que ocupava em Lisboa e veio fixar residência em Santiago do Cacém. A presença de um príncipe da Igreja deu prestígio à terra. O prelado participou activamente na vida local e ficou célebre entre os santiaguenses pela sua intervenção em momentos culminantes da vida colectiva, como as sagrações de sinos ou as principais procissões cívicas. D. António vivia numa casa na rua que tomou, por isso, o nome de Rua do Bispo, onde estabeleceu um seminário frequentado por seminaristas vindos da China, mas adquiriu uma propriedade, nos arredores, a Quinta dos Olhos Belidos, que é uma referência do paisagismo português.
D. António Paes Godinho regressou, já muito idoso, a Viana do Alentejo, habitando numa casa senhorial, onde morreu, com fama de santidade, em 1752, e jaz sepultado no centro da capela-mor da igreja matriz, num túmulo com as suas armas. Era a personalidade mais destacada da vila, no seu tempo, e deixou marcas profundas.
A carreira eclesiástica do bispo Paes Godinho alcandorou-o aos mais elevados postos, tanto no Oriente como na Metrópole, enquanto D. João V foi vivo. Investigações recentes têm colocado em destaque o seu papel na vida religiosa, política e social do tempo em que viveu, mas permitiram compreender também, com novos olhos, a sua profunda ligação ao Alentejo e o papel de liderança espiritual que inegavelmente exerceu em sectores-chave da sociedade portuguesa no segundo quartel do século XVIII.