O último discurso do Governador Vasco Rocha Vieira no território de Macau, ao final da tarde do dia 19 de dezembro, na Sessão Cultural
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Ontem, como hoje e como amanhã, o que os portugueses navegadores sempre querem é a procura do entendimento, a vontade da cooperação, a construção do que é novo.
Como nos disse o poeta, iluminando o passado e o futuro
“Éramos essencialmente navegadores e descvobridores, e só derivada e corolariamente homens de conquista e de colonização. Antes de sermos imperialistas, já éramos universalistas.”
Sempre fomos, como continuamos a ser, universalistas no nosso projeto de conhecer o mundo nas suas múltiplas direções, nos seus muitos povos, e nas suas várias culturas.
Sempre fomos, como continuamos a ser, construtores do futuro, respeitadores do que é humano, abertos ao que é diferente.
Hoje, em Macau, realiza-se Portugal.
Hoje é um dia de festa para a República Popular da China.
Mas também é a oportunidade para que todos os portugueses que alguma vez aqui viveram se unam na memória do que foi o primeiro encontro entre portugueses e chineses.
Nunca se encontrou tratado que formalizasse as responsabilidades por ambas as partes assumidas, mas a evidência da História de mais de quatro séculos define a verdade indesmentível que foi sempre única e especial a nossa relação.
Quando a ousadia dos navegadores do extremo ocidental da Europa os trouxe até ao Grande Império do Meio não havia senão o desejo do encontro, a vontade do entendimento.
Não havia, não podia haver, confronto e hostilidade, vontade de domínio ou espírito colonial.
Só havia, só podia haver, a vontade de compreender as diferenças, fazendo delas a força da cooperação criando a realidade singular, sem precedentes nem comparação, que é Macau.
Hoje, a Cidade do Nome de Deus de Macau, que gerou dentro de si a Região Administrativa Especial de Macau, pode justamente orgulhar-se de ficar como o monumento vivo, multissecular, que transporta para sempre a memória do nosso primeiro encontro e o projeta no fututo distante.
Será o povo de Macau que conduzirá, a partir de agora, os seus destinos, com os seus sistemas político e judicial próprios, que lhe garantem a sua singularidade dentro da grande nação
chinesa, preservando o seu modo de vida e os seus direitos essenciais, que os portugueses aqui deixam como testemunho cultural da sua presença.
Fica com as bases necessárias, nas infra-estyruturas e nas organizações, para poder ser uma sólida e eficaz plataforma de cooperação com todas as regiões do mundo, especialmente com a Europa, contribuindo assim, com utilidade, para a modernização, desenvolvimento e abertura da China.
Ao desejar ao Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau, Dr. Edmund Ho, e a todos os seus colaboradores, as maiores felicidades, peço para eles o que para mim pediria, que a fortuna e a virtude os acompanhem, para bem e felicidade de todos os que vivem em Macau.
Termino agora as minhas funções que exerci, por decisão do Senhor Presidente da República, de acordo com o meu sentido de dever, valorizando Macau e deixando abertas as perspectivas do futuro.
Posso dizer, como os navegadores portugueses, que “tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero”.
Porque o que mais quero, como os primeiros portugueses que aqui chegaram, é que tudo possa permanecer mesmo quando tudo muda, pois esse é o verdadeiro sentido do entendimento e da cooperação, da amizade entgre os povos e da mistura das culturas.
Despeço-me das gentes da Cidade do Nome de Deus de Macau, que admiro e respeito.
Parto com saudade.
Com a certeza
De ter deixado atrás parte de mim,
E saudade de não ter saudade,
Saudade dos tempos em que a tinha.
Saudade de Macau.
Saudade do seu futuro.
Até sempre.